Na varanda
Que estamos passando pela crise climática, não temos dúvidas. O aumento da temperatura global provoca prejuízos em diversas áreas, e em foco, na alimentação regional. Cada lugar tem seu próprio modo de produção de alimentos, tendo em consideração a cultura alimentar, o tipo de solo, o acesso à água, a disponibilidade da terra, os custos de produção, entre outros fatores.
O conjunto desses fatores são chamados de sistemas alimentares. Como descrito no Manifesto os sistema alimentares são um sistema complexo. Ele é "o conjunto de elementos (ambientes, pessoas, insumos, processos, infraestrutura, instituições e etc) e atividades que se relacionam com a produção, processamento, distribuição, preparação, consumo e descarte de alimentos, e as consequências dessas atividades, incluindo impactos socioeconômicos, ambientais e de saúde" (Manifesto Sustentarea, 2023).
Em resumo, abrange tudo que engloba o alimento, desde regulações de estado, políticas de acesso e produção, como, quem e onde é produzido, o consumo, a venda, o descarte, os impactos que essa cadeia provoca em outras esferas, e muito mais.
Para quem quer saber mais sobre sistemas complexos, indicamos os artigos da coluna da coordenadora Aline Carvalho no Jornal da USP. E para quem quer aprofundar os conhecimentos sobre sistemas alimentares, um bom começo é o manifesto do Sustentarea.
Sobre a escrivaninha
Recentemente, o InfoAmazonia publicou uma reportagem sobre as consequências do calor extremo na produção da mandioca pela população da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, como a redução da disponibilidade de farinha, beiju e tapioca, alimentos bases da dieta das comunidades desta região.
Neste caso, a queda da produção de mandioca foi fortemente relacionada às mudanças climáticas. Nas áreas mais quentes, observou-se a morte das plantas. Por sua vez, a diminuição das chuvas não só afetou a disponibilidade de água para irrigação das plantações de mandioca, mas também reduziu a quantidade de água potável disponível para consumo humano e para os animais, criando um ciclo de escassez de água e alimentos, com consequências diretas à saúde e à segurança alimentar e nutricional (SAN) das comunidades indígenas.
Quer saber mais? Confira a matéria na íntegra aqui.
Aproveitando essa pauta, no dia 22 de março é comemorado o Dia Mundial da Água, criado para aumentar a conscientização da importância da sua proteção e uso consciente. A cada ano é proposto uma pauta para discussão, além de estar dentro do Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
No fogão
Quando você pensa em paçoca, o que vem a sua mente? Amendoim triturado, misturado com açúcar, farinha de milho ou mandioca e sal? Quem aí conhece a versão salgada, na qual a nossa rainha é um dos ingredientes principais?
A origem da palavra paçoca é indigena: "pá soka", que significa esmagar, esmigalhar, pilar. Nos séculos passados, uma mistura de farinha de mandioca junto com carne de sol ou peixe triturado, era consumida principalmente por garimpeiros e tropeiros. Por ser um alimento seco, prático e nutritivo, era facilmente transportado e consumido durante as expedições.
Trouxemos a reprodução da receita pela chef Rita Lobo. Para acessar o vídeo completo, acesse este link:
Receita: Paçoca Salgada
Ingredientes
• 500 g de carne seca
• 1 cebola média
• 2 dentes de alho
• ½ xícara de chá de manteiga de garrafa
• ⅓ de xícara de chá de farinha de mandioca, crua ou torrada
• Coentro picado, a gosto (Opcional)
Modo de preparo
Em uma panela de pressão, cozinhe a carne por aproximadamente 30 minutos ou até que esteja facilmente desfiando.
Tradicionalmente essa carne era triturada no pilão, mas pode ser desfiada da maneira que for mais fácil, por exemplo usando as mãos ou o garfo.
Pique a cebola e o alho. Leve uma panela ao fogo médio e quando aquecer, acrescente a manteiga. Derretida, é hora de colocar a cebola e o alho, mexendo até dourar.
Acrescente a carne desfiada e deixe refogar em 10 minutos.
Acrescente a farinha de mandioca à carne, aos poucos, mexendo sempre.
Finalize com coentro a gosto.
A ideia é que fique um prato seco, como uma paçoca.
Rendimento: 4 porções
Dicas e observações
Se a carne de sol for salgada, corte-a em pedaços e reserve em um recipiente com água, de um dia para o outro. Troque a água, se possível, e descarte a antiga. No próximo dia, descarte a água utilizada antes do cozimento.
A manteiga de garrafa pode ser substituída por outros óleos vegetais, como girassol, canola, etc.
Porta-retrato
Agora, que tal aprendermos um pouco mais sobre a mandioca: do seu cultivo até o preparo da farinha?
Um pouco mais sobre o passo a passo desde o cultivo até a produção da farinha de mandioca:
Cultivo:
Preparação das mudas: conhecidas como manivas, são selecionadas, podendo ser de variedades "doces" para consumo in natura ou "bravas" para processamento industrial. As manivas podem ser plantadas a partir de sementes ou hastes de outras plantas.
Plantio e cuidados: preferencialmente em solos úmidos e com boa infiltração, como os arenosos. requerem profundidade e espaçamento adequado entre mudas para um crescimento saudável.
Crescimento e colheita: o cultivo dura de 12 a 18 meses, dependendo da finalidade. A colheita é realizada quando as raízes atingem a maturidade. Para a farinha, por exemplo, perto dos 12 meses está na hora de colher.
Processamento:
Lavagem e descascamento: As raízes são descascadas, lavadas e secas para remover sujidades.
Ralação: Após a limpeza, são raladas para formar uma massa fibrosa.
Prensagem, esfarelamento e torração: A massa é então prensada, para remover o excesso de líquido, e em seguida é submetida a altas temperaturas para torrar, podendo ser seca ao sol de forma tradicional ou em secadores industriais, formando torrões ou flocos.
Peneiramento: Os torrões ou flocos secos são moídos em moinhos para obter farinha. A farinha é então peneirada para remover impurezas e alcançar uma textura fina.
Acondicionamento e armazenamento: Para garantir a qualidade, ela deve ser mantida em local fresco e arejado, longe de umidade e insetos. A farinha deve ser armazenada em sacos plásticos ou sacos, a depender do local onde será comercializada.
Esperamos que tenha gostado dessa edição. Nos vemos na próxima edição com mais informações quentinhas sobre a nossa rainha!
Esse conteúdo foi organizado e editado pelas integrantes do GT Alimentação Brasileira - Mandioca: Alice Medeiros, Evelym Landim, Evla Vieira, Fernanda Nascimento Pereira, Gerson Nogueira, Hinayara Rodrigues, Jennifer Tanaka, José Felipe, Juliana Ventura e Rangel Rodrigues.
Ótima publicação, clara e muito informativa!